FONOAUDIOLOGIA A história da fonoaudiologia tem um paralelo com a história do programa que se desenvolveu em Iowa - The University of Iowa/EUA. Este começa em 1897, quando Carl Seashore chega em Iowa e recebe a incumbência de supervisionar a construção da 1ª sala à prova de som existente na época, cujo nível de reverberação é próximo a zero e que permitiria, portanto, a realização de estudos psicoacústicos. Como diretor do Laboratório de Psicologia e professor de Filosofia, ele incentiva a pesquisa em música, voz e audição, como também a construção de instrumentos para pesquisas, incluindo o audiômetro. Em 1900 Seashore havia desenvolvido seu primeiro audiômetro sem ter, entretanto, patenteado por considerar este, um instrumento essencialmente científico e não comercial (Fonte: Speech Pathology & Audiology. Iowa Origins of a Discipline, 1975 de Dorothy Moeller). Na sua função de pró-reitor de pós-graduação e de chefe de departamento de Filosofia e Psicologia que exercia desde 1905, Seashore promoveu o desenvolvimento de suas áreas de interesse, as quais ele denominava: Por volta de 1919-1920 Seashore, junto a outros estudiosos que ele havia trazido para Iowa, formam o Comitê da Clínica de Fala. Especialmente fundamentado sobre o que Seashore denominava Psicologia da Música, o primeiro departamento de Fala do país foi implantado em 1921. Disciplinas que originariamente eram ligadas à oratória (departamento de Public Speaking) deram origem à ciência da fala propriamente dita com o advento dos estudos em harmônicos, da análise acústica (denominada na ocasião “fotografias” da voz e da fala), dos estudos de anatomia e a proposição de métodos para a descrição dos sons da fala. A fonoaudiologia emerge da psiquiatria e psicologia quando, no âmbito destas áreas de conhecimento, cogitou-se pela primeira vez sobre o treinamento de um especialista que seria preparado para atuar neste novo campo denominado de “New Psicology”. Um fato significativo marca a cooperação entre a Psiquiatria e a Psicologia: trata-se de uma criança que tinha problemas sérios de fala e leitura. A criança era filha de um dos membros do Comitê da clínica da fala, o Dr. Orton (neuropatologista). Na condição de um neuropatologista brilhante, Orton não aceitava nenhuma explicação para o problema de comunicação de sua filha que não fosse orgânica em natureza. Para ele, algo de natureza física, no nível cerebral estaria errado. Seashore, por sua vez, tinha uma abordagem diametralmente oposta para os problemas desta ordem, acreditando em sua natureza psicológica. A dificuldade apresentada por esta criança na fala e na aquisição da escrita levou a ser questionado o fato de não haver no país nenhum profissional treinado para atuar neste campo ainda inexplorado. Lee Edward Travis foi o escolhido para desempenhar este papel, sendo para tanto preparado num programa abrangente, no nível de doutorado, para trabalhar clinicamente com desordens da fala e da audição. Travis chegou em Iowa em 1921 e estava matriculado em Psicologia como sua área de concentração principal e em Biologia como formação complementar. Obteve o grau de bacharel em 1922, completou o MA em 1923 e o PhD em 1924. Tendo sido escolhido por Seashore e Orton para um treinamento especial no final de seu último ano de Bacharelado, anos depois ele relata não fazer idéia do que tinha sido designado a ele pelo seu comitê até estar bem adiantado em seu programa de Pós-graduação. O comitê formado por Seashore, Orton, e outros 4 membros traçou para ele um plano de estudo interdisciplinar envolvendo disciplinas da psicologia, biologia, psiquiatria, histopatology, neurologia, fisiologia, anatomia, fala e engenharia elétrica. É bom mencionar que a maioria dos equipamentos utilizadas naqueles dias eram construídos pelo próprio estudante para ser usado com um fim específico. Seashore, ele próprio, era o um homem devotado à instrumentação e considerava que os estudantes precisavam construir seu próprio equipamento de modo a entender melhor o que eles estavam fazendo. Travis completou seu doutorado em 1924 e começou a lecionar em seguida. No catálogo de cursos do ano 1924-1925, onde consta a ementa das disciplinas há, pela primeira vez, referência à “speech pathology”, sendo esta a razão para que a origem do termo utilizado para designar esta profissão ser atribuído a ele. Em 1931 foi editado seu livro Speech Pahtology (Lee Edward Travis. Speech Pathology. New York: D. Appleton-Century, 1931). Em 1925, por orientação de Seashore, foi realizada em Iowa uma conferência da qual participaram mais ou menos 10 profissionais interessados no trabalho com desordens de fala. Nesta reunião foi proposta a convenção da Associação Nacional de professores de Fala (Amerciam Academy of Speech correction), tornando-se Travis seu primeiro presidente (e que em 1947 tornaria-se a atual ASHA- American Speech Hearing Association). No período de Travis, a The University of Iowa tornou-se a “Meca dos estudantes de pós-graduação” que estivessem interessados no pioneirismo do estudo científico da fala e de suas desordens. Estudantes em número cada vez maior eram atraídos pelo trabalho de Travis. Em seu programa de pesquisa, Travis estava especialmente interessado no estudo da dominância hemisférica em pessoas que gaguejam. Dois exemplos ilustres que procuraram o programa de Travis, por serem gagos eles próprios, foram Wendell Johnson e Van Riper. Johnson veio para Iowa em 1926 como estudante de Letras, encorajado por uma professora dele que tinha conhecimento sobre a pesquisa de Travis. Em uma de suas visitas a esta professora, ele teria dito que foi para Iowa para curar-se da gagueira e tornou-se um fonoaudiólogo por que “afinal, ele precisaria de um”. Formou-se em 1928, no MA em 1929 e no PhD em 1931. Mais tarde tornou-se diretor da Clínica de Fala e como resultado de sua vida docente inteiramente dedicada à Iowa, bem como os inúmeros trabalhos publicados, tornou-se uma autoridade mundial em gagueira e na área da semântica. Van Riper foi trazido por um amigo em 1930, logo após ter completado seu MA em Letras. Assim como Wendell tinha uma gagueira severa que o deixava sem fala em determinadas situações. Integrou-se ao programa de pós-graduação em fonoaudiologia. Após o PhD em Iowa, trabalhou com uma bolsa de pesquisa por mais 2 anos e depois retornou a Michigan, onde permaneceu em definitivo. Tornou-se um autor reconhecido mundialmente nas várias áreas de correções fala. Fairbanks estudou também em Iowa completando seu MA em 1934 e PhD em 1936. Em 1937 publicou seu livro intitulado Voice and Articulation Drillbook. Lecionou “Voz”, “Fonética” e “Desordens de articulação” até 1944. Tornou-se muito conhecido por seus estudos relacionados ao “atraso no feeddback auditivo”. Fairbanks foi uma figura de liderança na ciência de comunicação eletrônica. Seu interesse maior era pelo estudo da fala comprimida e expandida, tendo idealizado instrumentos que eram capazes de manter a altura constante enquanto era modificada a velocidade de palavras por minuto. De acordo com Seashore, deve-se ao trabalho de Travis, o mérito de atrair estudantes de várias partes do país para Iowa. Em 1942, entre 5 das melhores clínicas universitárias dos EUA, 4 delas eram dirigidas por profissionais treinados em Iowa e, de modo geral, na ocasião 2/3 das clínicas do país tinham orientação científica de Iowa. Bernadette von Atzingen Santos Cardoso
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